14/07/2024

A ansiedade da influência, segundo Bloom

 

Afinal não sou eu que falo, quando falo ou penso, 

ou mesmo penso, escrevendo.

E como se não bastasse para agravar tudo isto,

acabo de ler que "o ser e o dizer são para mim a mesma coisa".

Assim sendo e fechando aqui o silogismo,

temo que serei para sempre uma espécie de Belo

dito por Cintra, na única voz que foi capaz de sê-lo ao dizê-lo,

como aliás eu já to disse.

Afinal a minha prosódia, assonâncias e aliterações não são mais

que pensamentos escritos, num sábado à tarde,

por um poeta descabelado e exaurido numa esplanada semi despida

em Madrid, Salamanca ou Pavia.


1 comentário:

Graça Pires disse...

Li o livro "A angústia da influência" de Harold Bloom há muitos anos, tentando compreender que angústia era essa. Já nessa altura eu achei que o autor exagerava porque eu, que me deixo influenciar por tudo quanto é boa literatura não me sentia angustiada com isso. Todos nos influenciamos uns aos outros e é tão bom quando a escrita de alguém ilumina a nossa própria escrita. Não recuso a cúmplice apropriação da linguagem dos outros para transformar o meu dizer, embora me legitime no poema.
Desejo que esteja bem.
Uma boa semana.
Um beijo.