03/12/2023

Solstício de inverno

Tudo se anima já: os pomos nas árvores, 

os arqueólogos-melros procurando no chão

os seus ninhos antecipados.

Do canto das toutinegras, brilham sinais

convencendo-nos de que as trevas perderam.

Dos mortos, já quase nada se sabe.

Dos vindouros, uma esperança apenas.

E, no entanto, há uma promessa a rastejar

entre os grãos de areia, um rumor de vermes

com sede de superfície. Pressente-se

que alguém virá anunciá-lo.

A ousadia dos profetas porém mete-nos medo.

Ainda é cedo, um pouco cedo,

para algo mais do que um segredo.

5 comentários:

Jaime Portela disse...

O cenário vai sendo montado. É só esperar...
Excelente poema, gostei imenso.
Boa semana.
Um abraço.

Graça Pires disse...

"Pressente-se
que alguém virá anunciá-lo." E todos os anos é esperado como um fogo hereditário a ungir-nos a fronte.
À espera de um momento de luz, talvez o meu presépio vazio tenha o menino outra vez.
Desejo que esteja bem.
Tudo de bom.
Uma boa semana.
Um beijo.

Anónimo disse...

Obrigada Luís Miguel. Belo poema. Boa noite.

J. S. Vila disse...

Este bello poema me invita a reflexionar sobre el ciclo de la vida, y el ciclo de la muerte, representado a su vez por el devenir cíclico de las estaciones. Pronto será invierno, pero sabemos que luego llegará la primavera. Hay que coger lo bueno de la vida.

Luís Palma Gomes disse...

Talvez o presépio vazio tenha o menino outra vez - é um verso que cabia aqui, Graça.