O dia está quente. Tens menos quarenta anos e os olhos tapados por uns Rayban marados. Mais abaixo, as calças apertadas, encimadas por uma T-shirt sem mangas, aqui e ali furada por traças e pontas de cigarro. As botas negras pesam mais do que cilindros sobre a duna alcatifada em tons de magenta e raiva.
À tua frente, a banda favorita da semana passada marca o batimento cardíaco dos corpos magros que se agitam como demónios bem comportados. E uma rara brisa vindo do mar, sacode-te a melena; sorris com com a boca de lado como se fosse sábado.
Procuras um lugar sentado, trono recatado de um país novo, onde és rei e súbito levemente revoltado.
Do cimo do palco, pintado da mesma cor das correntes de ar, o vocalista agacha-se e rói o micro, como se fosse um gato: delírio total, libertação de todo o bem, de todo o mal, gasolina suficiente para o teu escárnio,
À hora marcada, acendes o cigarro; ardes o papel ao ritmo do compasso, perfumando insolente as margens do espetáculo.
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