09/05/2022

Chill Out

 


 

Tens os dias contados

um a um

por poemas bizarros,

frações de loucura cronometradas,

em que decidiste — vê lá tu bem —

apaziguar a urgência do tempo

que corre desalmado pelos prados.

 

A manhã é um sobressalto,

costumeiro solavanco que o corpo faz

ao entrar nos carris,

enquanto os automóveis passam lá em baixo

deslizando até ao centro da eira,

à seara deixada em sossego pela noite fora

para que o trigo aprenda a crescer sozinho.

 

Em dois minutos, gravitas em torno dos santos,

das primeiras orações que descongelas à pressa

num micro-ondas esquecido para sempre na memória.

Fechas tudo depois.

E vais o mais depressa que podes

até esse lugar-nenhum

que tu mesmo inventaste na noite anterior

antes de adormeceres sem querer

com o paliativo som do Chill Out,

pensado ao pormenor,

para substituir as “Avé Marias”

e outras tantas graças que tu outrora davas ao Senhor.

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