«Porque não desistes?», pergunta-te o outro.
E tu, que ainda nem nasceste sequer,
encolhes os teus ombros abnegados,
e com duas arcadas no violoncelo,
lembraste de qualquer coisa que guardas
sem saber porquê naquela gaveta
que só abres às vezes.
«Porque não desistes?»,
repete-te ele outra e outra vez.
«Porque ainda não chegou a minha vez»,
podias tu responder,
como se fosses uma senha numerada
à espera que o empregado da farmácia
te chame para pesar e anunciar sem espanto
que não tens peso algum.
Podias ainda evocar a tua maltratada esperança,
a tua fé nos homens, razões logísticas, práticas,
consubstanciadas em modelos que comprovadamente
demonstram que há vida para além de dias tristes como este,
ensombrados pela paixão de um animal que pressente,
que pressente...
não posso dizer o resto,
não posso.
Tenho o medo da pitonisa que sem querer advinha o fogo,
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