27/04/2022

O acto da confissão, segundo os pássaros

Posso confessar-te o canto autêntico dos pássaros, a sua boca bilingue, explicando entre eles, e aos homens quiçá, o que fazer quando a manhã enfrenta a ansiedade de quem procura  uma história, como se não bastasse o aguaceiro que se advinha para fertilizar o erotismo calmo das plantas. 

Aos insetos, a vida não cansa, apenas porque sabem que nunca houve duas flores iguais, e mesmo os troncos, que lhes atalham o caminho, são pouco mais do que lições para ensinar a esperança. 

O vento agita a memória avulsa das folhas, dos pequenos galhos onde o ninho se abre e fecha, coração que chama.

E no final do dia, sento-me em redor da fogueira apagada e esmiúço a jornada com os poetas ausentes que por conveniência e erudição não me dizem nada.

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