Nota de Intenção
Não devia publicar a minha cruz, nem sobrecarregar os teus ombros com o meu corpo cansado; outras vezes, sem vontade atirado ao insuficiente dia que me espera.
Aceita esta minha confissão e guarda-a onde puderes: num leve lapso de memória ou nesse largo mistério que nos move a que chamamos esquecimento.
A MARCHA
Ouviste tu, irmão, falar na longa marcha da derrota?
Talvez os meus passos lunares
não tenham deixado um rasto platinado
para que possas agora recordá-la.
Silenciei com um gesto toda a orquestra.
E deixei que as cinzas enchessem a sala do concerto,
enquanto escapei às arrecuas pela escada de incêndio.
Agora o dia reclama-me
mais por hábito que por convicção.
E vou de multidão em multidão
com a estranha incompetência de estar só.
Quando puder,
encostar-me-ei à margem.
E sentado no lancil
esperarei a vinda da próxima ilusão
até se esgotar a areia que rola indiferente
no relógio da parede que arde à tua frente.
(Desculpa-me a tristeza)
2 comentários:
Luis, gostei muito do que li e senti. Fica no ar o silêncio dessas tuas palavras que traduzem beleza contida e uma alma própria e profunda. (Joaquim Cardoso Dias -Poeta)
Belo, porque verdadeiro.
(Prof.Castro Caeiro)
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