10/04/2012

A horta


Que calma superlativa tem esta horta! Que enlevo e expoente máximo da civilização!

As árvores certas, no lugar certo. Enquanto a luz  amorna a terra fecunda, aguardando uma benfazeja semente.

Na linha do horizonte, algumas montanhas ensaiam  vagas de mar  nas suas próprias silhuetas. Como se uma calmaria se  espraiasse em profundidade e até à eternidade.

De regresso ao microcosmos, uma formiga ensaia o seu lugar aqui. Da mesma forma, eu o faço com a minha literatura. Com as suas antenas, a formiga experimenta aqui, depois acolá. Sabe-se lá o que procura ? Também eu não sei o que procuro. Sempre me questionei sobre a função da literatura ? E para que serve um poeta ?

Talvez ser poeta sirva apenas para colocar esta pequena horta do fim-do-mundo, num lugar de deuses e deusas, num Olimpo outra vez pastoral, perfeito como uma cantata polifónica, onde os sobreiros são tenores e os chamarizes, mega-sopranos temíveis, temperando a dimensão do silêncio com o estrilho do seu canto.

O poeta deve ter a pretensão de pegar carinhosamente nesta horta e arrancá-la sem a arrancar. Levá-la daqui para onde a horta não exista, mas seja necessária. Para quem não tenha uma horta - ou apenas a tenha virtualmente - consiga sentir o cheiro, a placidez, o optimismo, a modéstia honrada que tem uma horta em Salvaterra do Extremo (Idanha Nova - Portugal).

1 comentário:

Dário disse...

Conheço Idanha e é um lugar muito bonito. Simples, mas acolhedor.