19/10/2011

Álvaro de Campos no Debate do Orçamento de 2012



Ao ouvir o debate da Assembleia da Republica (AR) sobre o orçamento de estado para 2012, pareceu-me estar a ouvir uma ópera bufa, onde cada qual dos actores (representantes do povo) tinha um papel estudado e ensaiado, num grande ensaio geral numa antecâmara da AR.

Lembrei-me, então, de um poema do Álvaro de Campos:

"(...)
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.

Merda! Sou lúcido.
(...)"

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