14/12/2025

A casa temporal




Sou, por agora, mistério em bruto,
sortilégio ainda incandescente.


São assim as manhãs de inverno,
quando o sol aparece sem avisar, 
para almoçar.


Se apenas existisse esta manhã,
seria suficiente:
o passado reconstituído
em filigrana,
o futuro coisa mínima,
carpa a nadar, previsível,
num lago semi coberto de folhas.


É isso o que faço:
exercito até ao meio-dia
a contenção do tempo.


Alguém, porém, bate
na porta grossa de carvalho
que construí para esta casa temporal.
Bate e insiste
com mãozinhas delicadas, 
afiadas e subtis;
insiste, insiste.

“Deve ser uma criança”, penso.

Quando abro a porta, ninguém.
Só uma sombra desce as escadas, apressada,
e deixa no tapete
uma carta fechada.
Prefiro não a ler, por enquanto.

Sem comentários: