Sou, por agora, mistério em bruto,
sortilégio ainda incandescente.
São assim as manhãs de inverno,
quando o sol aparece sem avisar,
para almoçar.
Se apenas existisse esta manhã,
seria suficiente:
o passado reconstituído
em filigrana,
o futuro coisa mínima,
carpa a nadar, previsível,
num lago semi coberto de folhas.
É isso o que faço:
exercito até ao meio-dia
a contenção do tempo.
Alguém, porém, bate
na porta grossa de carvalho
que construí para esta casa temporal.
Bate e insiste
com mãozinhas delicadas,
afiadas e subtis;
insiste, insiste.
“Deve ser uma criança”, penso.
Quando abro a porta, ninguém.
Só uma sombra desce as escadas, apressada,
e deixa no tapete
uma carta fechada.
Prefiro não a ler, por enquanto.
Sem comentários:
Enviar um comentário