Carvalhais (São Pedro do Sul), 17 de Agosto de 2025
Atrás de mim, a azáfama da água, o choro das crianças, um rumor de conversas que se adensa em redor da piscina. À minha frente, o vale: um carvalhal entremeado de medronheiros, cedros e árvores cujo nome ignoro. Estou na terra de Lafões, em pleno vale do Vouga. As casas dividem-se entre solares senhoriais e brasonados e as de lavoura — por baixo, a antiga loja que albergava o gado guarda agora o trator.
Ontem fomos à missa. Pareceu-me demasiado ritualizada: o sacrifício, a cruz, a oblação, o altruísmo absoluto. Não havia salmista (talvez de férias). Mas Deus estava ali — está em todo lugar onde se reúnam dois cristãos. Via-se no olhar das pessoas, sobretudo no instante em que o padre ordenou: “Saudai-vos uns aos outros”.
Notei também que por aqui as cabeças de muitos homens são maiores, largas como os troncos que os rodeiam. As mulheres, portuguesas no sentido etnológico: trabalhadeiras, cuidadoras, simples no vestir. Os imigrantes são ainda poucos, ao contrário do que sucede nas grandes cidades.
Mergulha-se na piscina como se mergulha numa lusitanidade que resiste: identidade secular que persiste tanto no gesto humano como na paisagem que o enquadra.
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