Abre-se a cidade — perdão, a janela —
e as vozes entram como se atores desastrados
falassem alto nos camarins.
É quase primavera — perdão, é primavera.
Aqueles primeiros dias de uma estação
em que não sabemos ainda
o que havemos de vestir.
A cidade não para. Por isso é cidade.
Se parasse seria outra coisa.
E como eu desejaria que ela o fosse — ou talvez não.
Sei apenas que as coisas deviam ser outra coisa,
mas não sei ao certo como elas deviam ser.
Estou confuso. Estamos todos.
Por detrás da manhã, a tarde e depois a noite.
Sempre a mesma sensação do tempo sem qualquer aceleração.
Apenas aquela impressão confortável
de quando se vê os carros e as casas;
os rios e os montes a 50 mil pés de altitude,
enquanto comemos a sandes e o chá
que o comissário de bordo nos entregou.
É isso, a vida?
Uma gaivota emite os mesmos sons
que emitiria num porto de pesca.
Anda, contudo por aqui ao lixo.
Nem sei como adormeci em Lisboa
e acordei em Karachi, no Paquistão.
2 comentários:
Una luminosa anhedonia te trasunta al garabatear tu gran poema pleno de radiante de melancolía... De lo mejor entre todo lo muy bueno que te he leído, amigo
Abrazo admirado!!
Confusos? Por isso temos os olhos acesos de fragilidade. A cidade tem ruído, tem gente, tem presságios, tem medos, mas também tem esperança.
Que tudo lhe corra bem.
Um beijo.
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