Estou ainda em choque e por isso nada funciona como antes:
as manhãs, o rolo dos estores, o azul, o antigo significado
que explorava nas coisas.
O leite coalhou, a gata agora é de papel normal
e poderei arquivá-la na estante mais baixa da sala.
O mundo mudou e não me avisou.
Talvez me tenham feito pequenos gestos
a que não terei dado o devido sentido.
E o que farei agora, mãe, que te vi sofrer como um animal ferido?
Nem tinha percebido que estive durante 56 anos sempre ao teu colo
— mesmo quando dançava louco ou corria atrás da passarada
ou fingia amar as raparigas atrás dos pavilhões do velho liceu.
Eras a jarra de flores que estava em cima do móvel do hall de entrada
e caiu agora desamparada.
Resta saber se o tapete persa e felpudo amparou-te, ou não, a queda?
2 comentários:
O seu poema comoveu-me. Talvez ande demasiado sensível, mas a verdade é que chorei ao lê-lo. Não tenho palavras.
Uma boa semana.
Um beijo.
Poemazo le llamamos por aquí, amigo.
Admirable destreza para entrelazar versos y a la vez narrar.
Perdona la demora en venir a leerte. Es un rato te subo al Gaterío como quedamos. Un honor que quieras estar.
Abrazo hasta vos.
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