O ensaio do "Último Castro"

Acabei de assistir a um ensaio do "Último Castro...". São duas da manhã e não consigo dormir. Fecho os olhos e ouço ainda o ruído do pássaro a pairar sobre o cenário — uma estrutura de andaimes de ferro usado e ferrugento, enquadrando o espetáculo com a mesma precariedade  das civilizações quando estão prestes a acabar. Ouço os atores e as suas mágicas palavras; se dizem que a lua é vermelha, acreditamos; se eles veem um fantasma, nós também o vemos, assustados. As suas palavras não descrevem mais a realidade, criam-na e isso é fantástico.

 Julgo-me, ó insuflação demoníaca, o Anton Tchekhov acabado de vir de uma estreia no Teatro Bolshoi ou coisa parecida. Depois abro olhos e continuo a sonhar. O teatro é isso: sonhar com olhos duas vezes mais abertos do que é habitual. 

Na sexta-feira, dia 22 de julho, estreia "O Último Castro Antes de Roma", peça escrita durante 2021, no período da quarentena. Já tinha feito várias tentativas para a escrever, sem sucesso. Aquele período de recolhimento forçado foi determinante para a minha vida interior, para os meus objetivos de criação literária. Em boa hora, a direção do Teatro Passagem de Nível entregou a dramaturgia e encenação ao Miguel Galamba. Que a sorte nos proteja e o público nos venha ver ao Auditório de Alfornelos. 

*Alea Jacta Est.

* Os dados do jogo estão lançados.