Vais até à margem que é o centro
para que as tuas mãos toquem coisas intocáveis.
Tentas convencer-te de que regressas com elas.
Se elas vêm ou não, nunca sabes.
Há realmente indícios de uma presença estrangeira
em alguns gestos que fazes sem querer,
em palavras que te escapam
como os pardais que guardamos crédulos em gaiolas.
Se, porém, quando voltas ao deserto
tudo está por lá outra vez,
é certo que nunca levaste nada para casa.
E se não trazes contigo as profecias,
então para que te servem os jejuns de poeira e gafanhotos?
Ou mesmo as sandálias, senão como lugar-comum
de uma adiada humildade?
Apenas quando olhas o bando de estorninhos
negros e empoleirados como uma orquestra,
compreendes que a música dos pássaros
não pode ser tocada nos coretos da cidade.
2 comentários:
Um processo de terra queimada.. pintado com as cores do arco-íris, sem estas ficaria um imenso deserto...
Surrealista interpretação objectiva..
A mensagem é forte.. só quem respeita, admira, luta pela sua protecção sente cada palavra, como se estivesse a ser comido por um "bando" de gafanhotos...
Como sempre, maravilhoso, poeta. Estás no caminho certo, mas não sabia que ias tão longe. Um abraço
Enviar um comentário