Porque corres
agora berrante
em redor
dessa carroça de palha em chamas?
Mil e tal
voltas
em redor
da merda de uns espelhos
e de
algumas outras gangrenas
se
finalmente te escolhem,
para uma
infinita podridão de pomos
habituados
ainda ao consolo dos ramos.
Nessa derradeira
estação das uvas
será
outono e entre os seus rostos
reconhecerás em ti
a solidão
dos mostos, um verdilhão
enviscado
à hibernação das árvores
e outros
expedientes informais até então
esquecidos.
Alguém
contemplando-te
do cimo
de um vertiginoso andaime
ver-te-à naufrago.
Lançarás
as tuas mãos suplicando as dele
mesmo
sabendo que agarrarás as tuas apenas.
Terão
ambas o estigma de um prego
ansioso
de cruz.
Tu mesmo
serás um cristo possante
crucificado
afinal
sem o
brilho do mártir verdadeiro.
Mais
tarde ou mais cedo
a maré descerá sob os teus pés
e por essa imensa praia
renascerão violetas e outras cores ligeiras.
Tudo isto
por detrás dos teus olhos de Cristo repetido.
Diante de
ti
ainda e
sempre
teus
filhos ardendo
nas
línguas de uma palha pungente.
Viagem de comboio "Castelo Branco-Lisboa" em 1999
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