25/10/2019

Sol Invictus, por enquanto


Na fotografia da gata ao Sol, as sombras são  tão  vizinhas que permitem só um fio de vida.

Ali, partir é quase chegar. E nesse adequado intervalo resta um caos de luzes visto de dentro, um calor quieto e vulgar visto de fora.

24/10/2019

Futebol sénior

Ainda sentes o jogo?
Estás cansado 
e a bola pesa uma vida de chumbo.
Nem penses em correr com ela.
Chuta-a para a frente com força. 
Alivia por instantes a angústia de perder.
Respira enquanto o destino te  prepara um novo cerco líquido. 


14/10/2019

Vida recolectora

Escuta-se o cansaço do carnívoro a digerir a presa. Foi dura a caçada - cheia de sprints e respirações invulgares, consequentes da lembrança da fome e, em parte, do esquecimento do vinho novo. Esse mesmo que brota e se recolhe nas bolsas lacrimais das virgens vestais do Templo do Imperador.

Recuperado o fôlego, saímos em corrida na peugada do alce até o deixarmos sem saída.

07/10/2019

As visões do invisível

Parece-me evidente que cada cultura cria a sua visão de Deus. Esta visão, tendo um primado teológico, cresce em todos os vetores artísticos: na música sobretudo,  mas também na pintura, na arquitetura,  escultura, literatura - em suma numa camada estética que nos aproxima da presença
do sagrado.
Vivaldi, compositor não reconhecido durante a sua vida, compõe "Nisi dominus" como se quisesse provar que os critérios dos homens e de deus são tão díspares no que diz respeito ao reconhecimento.

01/10/2019

O convite

E se tudo não servisse para nada ? E se as manhãs fossem apenas manhãs sem qualquer desígnio por mais ínfimo que ele fosse ? Talvez não queiramos aceitar o vácuo que representa a nossa existência.
Não! Nada disto é verdade.
Tudo o que fizemos serviu um desígnio superior:  os filhos, os beijos, as balas, as caminhadas ao fim da tarde ou logo pela manhã entre o frenesim esfomeado das aves.
Não sei então porque ficamos ansiosos quanto ao sentido das manhãs? Talvez tivéssemos recebido um convite e não o tenhamos aceite completamente. Como aquele que Jesus endereça ao jovem rico para o seguir e que este não aceita, preferindo ficar na segurança das suas riquezas e das suas posses. Talvez, seja a melancolia desse convite não aceite que se vai repetindo diariamente que nos deixa assim - de alma vazia.