12/05/2017

Entre o céu e a terra

Pintura tonalista de Edward Bannister


As religiões são gramáticas com deficiências naturais e humanas. Elas permitem aos humanos nomear ou interpretar o transcendente. É natural que as religiões à semelhança das línguas dos povos tenham uma matriz geográfica, étnica e política. Entre o transcendente e o imanente o que pode um mortal senão seguir o caminho estreito entre ambos. Eles próprios que alternadamente se atraem e repelem.

"Terra
sem uma gota
de céu.

(...)


Céu
sem gota
de terra."

in "Turismo" de Carlos de Oliveira

Há ateus de uma religiosidade tão exigente que nenhuma gramática lhes parece suficiente para a fruíção ou interpretação do transcendente. Ninguém escapa a este anseio de infinito, de partilha caritativa,  de misericórdia e justiça, de uma verdade tão universal e genérica que possa servir de referência a todos nós - ou mais poeticamente - um ponto de fuga comum para onde todos as caminhadas converjam. 

1 comentário:

Luis disse...

tens razão, não há ateu que não seja de alguma forma religioso
a começar por mim

quando era miúdo e abria a porta às testemunha de jeovás, eles costumavam perguntar qual era a minha religião

Eu respondia que era a dos homens, que acreditava na grandeza que há cada um de nós, e por maioria de razão em nós todos juntos

Isto baralhava-lhes um bocadinho o latim, mas lá me deixavam uns livrinhos que deitava fora e eles seguia a sua vida

Quando ao longo da vida perdi mais essa fé, fiquei um bocado desasado, porque na verdade exijo essa religiosidade. Corvejo, sim.