19/09/2016

"O Passado Já Não Se Encontra Atribuído" de Vanda Palma

Cheguei a Castro Verde e logo soube do trabalho da ceramista Vanda Palma. Pensei tratar-se de mais uma ceramista de inspiração tradicional ou folclórica de índole conservadora- dado o espaço cultural onde ela se integra. Na verdade, somos preconceituosos por natureza. É a nossa forma de sobreviver, julgar e tomar decisões em tempo útil. Não devemos envergonharmo-nos de sermos assim. É humano.

Todo este intróito, para tentar explicar uma das facetas da arte: A surpresa. Sempre que alguém surpreende, renovando ou acrescentando à estética uma nova perspetiva, a arte agradece. Agradecemos todos, porque, "a tradição só sobrevive porque muda"(1). 

A ceramista Vanda Palma surpreendeu-me com estilo e arrojo. O titulo da sua exposição ""O Passado Já Não Se Encontra Atribuído""  a decorrer na CM Serpa até dia 8 de outubro de 2016 é uma espécie de síntese, em jeito de pregão, desta renovação. Jorge Luis Borges, ficionista e poeta argentino, escreveu "Nós somos os mortos", ainda, acrescento eu, que agora eles estejam com uma nova roupagem e novos objetivos de vida. 

O trabalho de Vanda Palma é essa ruptura para a continuidade. O seu trabalho é essa destruição que salva o "mundo", sendo neste caso o mundo da tradição ceramista do sul de Portugal. Lembrei-me da Rosa Ramalho (ceramista minhota), mas agora dando à cerâmica de cariz popular uma nova consciência nacional.


Ligação: Exposição em Serpa




(1)  "Um mapa para pensar a tradição",  Alfredo Teixeira, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2015, pp. 44-47 
Publicado em 18.09.2016

1 comentário:

Paris Toujours disse...

que engraçado.
gostei muito de saber.