O menino gostava de subir das águas
furtadas da casa da avó até ao telhado. Sentia-se num ermitério, num lugar de
aventura e reflexão. Ensaiava as primeiras fugas a caminho do etér – numa espécie
de passagem entre a terra e o céu, como se fosse um anjo. Nesse tempo, a vida
era infinita e o mundo também. E havia quem seguramente tomava conta de dele. Afinal
as suas asas estavam dentro dele, na sua imaginação, na possibilidade de recriar
tudo o que o envolvia. Os dias eram grandes, as noites acolhedoras dentro dos
lençóis, onde acreditava que dormia no fojo dos lobos. Depois havia a escola, as
regras, aqueles exercícios de aritmética que o aborreciam de morte e que lhe
tiravam tempo para desenhar. Mais tarde, percebeu que também a matemática era
um mundo de utopia e sem o comércio dos afectos e das hierarquias que lhe
tolhiam os dias, um após a um.
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