Numa secreta viagem ao Alentejo reflecti os meus medos e ansiedades
no olhar assustado primeiro e depois ternurento de uma égua a quem chamamos
depois “Elvira”. A égua andava agitada com a nossa presença. Corria a galope no
espaço exíguo daquela pequena quinta. Ao ver aquela erva tão verde, deitei-me
no chão. A Elvira parou. Ficámos ali por instantes estudando mutuamente as nossas
intenções. A minha postura revelou-lhe alguma humildade, quiçá, e confiança. Ela
viu alguém prostrado que provavelmente precisava de ajuda. A curiosidade ou outra coisa
qualquer mais afectuosa, motivou-a a avançar até mim. Lentamente, agachei-me,
arranquei um molho de erva e ofereci-lhe como quem dá um ramo de rosas a uma mulher
ou a um amigo. Encontramo-nos os dois a meio caminho. Fiz-lhe uma festa no
focinho e depois outra. As suas pálpebras semicerraram de acalmia. Estava feita uma comunhão temporária dentro de
mim. Dentro dela também, sabe-se lá.
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