Qualquer coisa de ouro velho e abstrato invade o ar através do lento vapor desta manhã de outubro. As gotas da chuva miudinha desfazem-se nas folhas dos arbustos mais rasteiros, tornando-as tristes e vivas
como seres pensantes, quando se detêm diante de um tom magoado de luz. Os pássaros prometem-nos que não há pressa.
Entre eles, nunca a houve verdadeiramente. A primavera está outra vez demasiado longe do horizonte e as sementes preparam as suas camas de orvalho nas veias
do húmus sobrevivente da última estação quente. O poema, omnipresente e
impotente, escreve-se no voo curto e débil das primeiras folhas caídas. Em cima dos lábios, cantilenas sombrias entreabrem frestas no
peito do mais distraído pastor de máquinas.
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