Há linhas que se quebram, triângulos de vários ângulos que se criam, vértices que não se tocam, linhas paralelas ou então concorrentes,
mas que apenas se cruzam tarde de mais. Esta é a geometria do amor. Os corpos não
se fundem, os olhos não se tornam unos e os corpos tocam-se por instantes demasiado
curtos quando vistos de longe, da eternidade. O amor tem ainda um lado animal, instintivo e cínico que apela apenas à sobrevivência dos espécimes.
É fácil falar de amor quando não estamos
apaixonados, quando não fomos abandonados no caminho. Caso contrário, também falamos,
escrevemos, cantamos, mas ficamos a sós com as nossas palavras e os nossos vazios
temporiamente por preencher. Nestes espaços, ecoam vozes e raivas e silêncios onde soam...sei lá...violencelos ou campainhas incómodas . Mas tu vais levantar-te, camarada. Levantamos-nos sempre e caminhamos
discretamente diante do olho semiaberto da fera que descansa e nos vigia.
Falar de amor é uma seca, um aborrecido lugar
comum. O amor é um filme que já conhecemos o fim ou um jogo de futebol em
diferido do qual já sabemos que o nosso clube perdeu. O amor conquista tudo, todos espaços e segundos. Quando ele parte com o seu espólio de ouro e prata, pouco nos resta. Ficamos entregues a uma nova e estranha solidão. E é preciso (re)amar-nos de novo para suportarmos essa senhora tão intima e imprevista como uma sombra.
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