Este fim-de-semana tive o privilégio de assistir ao espetáculo “Começar a acabar” de Samuel Beckett numa leitura/compilação de vários extratos de peças do dramaturgo irlandês. A autoria do espetáculo é de João Lagarto que com este espetáculo alcançou um globo de ouro para a melhor interpretação em 2006. O homem de teatro – prefiro chamar-lhe assim – João lagarto efetuou ainda, no dia seguinte, uma palestra dedicada ao making-off do espetáculo, com enquadramento biográfico e artístico, aberto a todos.
A minha avaliação não podia ser a melhor. O monólogo com o
qual foram presenteados os espetadores que se deslocaram ao Auditório de Alfornelos
– a casa do Teatro Passagem de Nível – foi de uma qualidade extrema, ora ao
nível da interpretação, ora ao nível da coletânea de textos apresentados. O
ator pouco se movimenta, cumprindo o minimalismo Beckettiano, mas quando faz
cria espaços dramatúrgicos e significados fortes. O estudo e investigação que
João Lagarto efetuou para a construção deste espetáculo é a prova que o
trabalho compensa. A sua interpretação é
muito boa – diria quiçá o papel da sua vida ou do fim de vida para qualquer
mortal.
A peça versa os últimos dia de vida de um mendigo típico das
ruas Dublin, que durante hora e meia efetua o seu “relatório e contas” com a vida. A personagem precisa
finalmente de alguém para comunicar e fá-lo com o público de uma forma forte e
convincente. Mais tarde, na sua palestra de domingo, João Lagarto explica-nos
esta abordagem pós-modernista onde o público faz como nunca parte da obra. Ou
seja a sua interpretação complementa a visão do autor, como nos processos de
abstração.
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