Exmos. Senhores (...)
Assim como o
teatro se representa tradicionalmente por duas caras, uma triste, a do drama, e
a outra alegre, a da comédia, também o Passagem de Nível, ao longo destes 32
anos, tem os seus sentimentos conflituantes.
Tem a saudade bonita de ter trazido a colaborar nos seus
projetos um conjunto de personalidades que bastante nos honram, e passo a citar
alguns deles, uns felizmente vivos e outros que fisicamente já não estão entre
nós. Chamam-se ou chamaram-se Joaquim Benite (Encenador), Mário Viegas(Ator),
Jaime Salazar Sampaio(Dramaturgo), Jorge Colombo (Cenógrafo), Fernando Filipe (Cenógrafo), Carlos Correia (escritor)
- só para referir ou lembrar algumas figuras que connosco trabalharam ou
colaboraram, porque existem existem muitos mais que mereciam a honra de uma referência.
Mas temos também a outra máscara, a da
alegria, a alegria de termos ajudado a
subir ao palco muitas gerações de jovens como os casos mais relevantes de
Mafalda Vilhena e Dinarte Branco e
outros menos jovens que entre as nossas paredes de ilusão puderam também
sonhar, revelar-se e ao contrário do que se pensa, ter o privilégio de retirar
as máscaras para subir ao palco ou ajudar os outros a subirem-no. Porque o
teatro amador, não são só autores, atores e encenadores, mas um conjunto de
pessoas que voluntariamente dão o seu tempo livre para esta causa nobre e que eu
aproveito para saudar.
Ao longo destes anos,
formou-se uma corrente entre gerações, sensibilidades e caminhos que se cruzam
no palco, nos ensaios, no foyer, nas bilheteiras, nos espetáculos itinerantes.
Tem sido esta, como sugere o nome do grupo, a nossa missão: estabelecer
passagens entre duas margens, entre dois níveis de cidadania e humanismo, entre
aquilo que cada um é e aquilo que porventura será no futuro. Não acredito que
alguém tenha participado na nossa vida associativa através dos espetáculos, dos
cursos de teatro, dos prémios literários ou dos festivais de teatro e não tenha
saído mais humanamente mais rico do que entrou. Esse é o nosso orgulho. Esta
será sempre a nossa esperança.
Quanto ao futuro ? Não tenhamos medo dele. O teatro coabitou
com muitas crises históricas, guerras e mil e uma revoluções tecnológicas e
políticas. Contudo o teatro esteve, está e estará sempre por todo o lado. Da China
ao Canadá, do teatro nacional à mais humilde sala do mais recôndito lugar da
terra. Nesse futuro, o Passagem de Nível será um espaço para a refletir a
história, para os autores de língua portuguesa e para a cidade da Amadora.
Mas também um espaço de procura, de inquietação e provocação
aos mitos do senso comum, às verdades servidas já cozinhadas pelos media.
Assim permita a nossa humilde arte e esta força suave de quem
acaba de fazer 32 anos.
2 comentários:
Belíssimo texto, Luís Miguel Gomes. Uma visão muito pragmática e bela do que é o teatro, da sua capacidade de comunicação e de unir pessoas.
1º que tudo Parabens ao Passagem de Nível!
2º para 1º discurso está muitissimo bem, estás de Parabens!
3º e Viva o Teatro.
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