26/03/2018

Questionário

E quando a máscara se enraizar no ser ?

E quando o ser, exangue, denunciar a máscara ?

E quando nos cair em cima a estátua que construimos de nós mesmos ?

E quando o vento que trouxe o pó que somos, levar o pó que éramos ?



12/03/2018

O sentido e direção vetorial da cruz

A propósito deste tempo de espera e quaresma a que chamamos Páscoa ("Passagem"), devemos refletir sobre o símbolo da cruz. Se ela representa um veículo que nos faz ascender ao paraíso, à vida eterna, à redenção depois de redimidos os nossos pecados e culpas com sacrifício da vida de Cristo? Ou pelo  contrário, se será ela um veiculo que desce do Céu  à Terra, para nos demonstrar o amor do Pai que sacrifica o seu filho por amor à humanidade ? Em muitas passagens bíblicas, Jesus vem à procura dos aflitos, dos doentes, dos sofredores para os aliviar e curar. Creio que também encontramos aqui a resposta para a pergunta sobre a cruz. Ela procede, em sentido descendente, do Pai que ao sacrificar o seu filho, nos revela todo o seu amor por nós. E quanto a nós, apenas nos resta o simples gesto da nossa ínfima, mas sincera, gratidão pelo seu amor. Boa passagem para todos.


05/03/2018

Os melhores poemas

Qual o poeta que não queria ter escrito um grande poema ? Um daqueles que saem da caneta durante uma semana, um mês ou um ano inteiro e que depois de uma emenda aqui, um corte acolá, o poeta olha-o exausto e pensa:"Já está.".

O que sentiu o Pessoa depois de ler a sua "Tabacaria" ? Pensou que era "A Obra" ou que apenas se tratava de mais um esboço para a arca ? E o grego Kavafis, na sua Alexandria, depois de escrever "À espera dos bárbaros" ? Como conseguiu ele reduzir tanto em tão pouco e com tanta beleza - espero eu, que não sei ler grego. E Ruy Belo, como se sentiu ele depois da "Muriel" ? Terá ele pensado que podia viver sem ela, sem elas - suas musas de fumo com quem trocaria olhares nos átrios dos cinemas ou nas esplanadas de Madrid ?

Por mais insignificante que seja, todo o poeta tem a esperança envergonhada de com algumas linhas - vindas sabe-se lá donde - ficar no imaginário coletivo das gerações futuras e tornar algo por si criado, ou montado se assim quiserem, numa referência  clássica.

Fernando Pessoa

Konstatinos Kaváfis

Ruy Belo