Do meu livro sei que nem um só poema será lido,
nem desfolharão para além da terceira página.
Lerão sem interesse um verso aqui, outro acolá.
A minha mãe comover-se-á com a obra
sem ler uma linha sequer.
Alguns amigos segredar-me-ão: "Genial!"
por misericórdia.
Os outros poetas pensarão: "Olha-me este".
O meu filho: "Coitado do pai."
A minha mulher confiante comentará
para ela própria: "Ele lá deve saber porquê."
Eu achar-me-ei um génio incompreendido
e o livro não terá mais que um poiso escondido
numa bolorenta prateleira de um alfarrabista de subúrbio.