Era um dia qualquer, cinzento, perto de novembro. Os peixes cantavam o seu desenho de lua e mar. E também eu teria cantado, se não tivesse tantas contas para pagar, e outras obrigações que me fazem escravo da gleba, mujique russo do século XIX, soldado a quem, por prémio, deram um cárcere.
Nada acontece porque acontece. Deus não joga aos dados. Há de haver uma razão qualquer entre o primeiro e o último dia.
Depois do padre Vieira, num púlpito em São Roque, repetir dezenas de vezes o pulvis es, et in pulverem reverteris, o povo saía primeiro apressado da igreja, depois os nobres e os endinheirados, mais devagar, como quem seguisse sobre um andor.
Corria então um vento, uma brisa talvez, que levava esse pó e o espalhava pelos quatro encantos do mundo.
Amadora, 28 de Outubro de 2025
Amadora, 28 de Outubro de 2025
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