Páginas

28/06/2023

Levanta os olhos

A manhã é a porta flagrante da esperança. Levanto os olhos e sou tentado a aceitar que uma pequena renovação  se fez durante a noite: os cansaços foram aniquilados, os medos atenuados e o sono despertou novas possibilidades.

Os pássaros sabem disto antes de nós; os gatos vêm-nos acordar; as flores perfumam-nos os caminhos intensamente (já paraste para as cheirar?).

Mesmo nas casas, o cheiro do café e o incentivo velado dos bons-dias existem sobretudo para nos lembrar que há uma nova hipótese. E outra e outra e outra haverão. 

Pela manhã, sabemos humildemente que valemos, por enquanto, aquilo em que acreditamos. Mesmo que ao fim do dia, voltemos a duvidar.

A manhã é uma sorte, uma dádiva repetida, uma espécie de perdão da dívida. Foi provavelmente de manhã que o poeta escreveu: "Ama como a estrada que começa".


"Wings of the Morning", Edward Robert Hughes, (1851-1914)





4 comentários:

  1. Boa tarde Luís,
    Um poema em prosa maravilhoso.
    O início é imensamente significativo e feliz.
    «A manhã é a porta flagrante da esperança».
    Que a esperança seja sempre nossa fiel companheira.
    Um beijinho.
    Ailime

    ResponderEliminar
  2. Luís, já falamos sobre as manhãs e comentei esse ótimo poema no Facebook.
    Desde a época em que fazia o magistério lia que a esperança é uma necessidade ontológica. Mas a esperança sozinha não é o bastante, tem que ter atividade crítica, e isso você tem.
    "A manhã é uma dádiva repetida"
    Um beijo

    ResponderEliminar
  3. Cada día en el amanecer el hálito para seguir siendo, para seguir estando. Un abrazo. Carlos

    ResponderEliminar