Amadora, 4 de Novembro
A máquina de lavar está avariada.
Também eu estou.
Já não funciono como dantes, e sinto-me melhor assim.
Agora existo quase apenas para contemplar as últimas coisas
com a consciência de as ter contemplado.
Parece fácil, mas não é.
Abandonar a vida para contemplar,
como os anjos berlinenses de Wim Wenders.
Somos, antes de mais,
um projeto de sobrevivência em movimento.
Podemos fazer-nos de mortos,
mas não por demasiado tempo.
Como Ariadne no labirinto do Minotauro,
deixámos demasiadas pontas de novelo
para sairmos de lá vivos, inteiros.
Os nossos demónios, e os dos outros,
acabam sempre por encontrar algumas dessas pontas.
E quando, distraídos, nos encontramos em ascese,
em longínquas ruminações:
truz... truz,
chegam eles.
1 comentário:
Enquanto nos lembrarmos de comer quando temos fome... de sorrir quando temos vontade.. de quem são os nosso amigos.. e que esses amigos estejam presentes! Está tudo OK! Ok! OK!
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