Passa depressa o pingo da chuva,
Vertical ao teu pensamento.
Esse que, ao contrário, é horizontal e longínquo,
Seara de terra e mar, onde já pouco se oferece,
Sorrindo.
Há o gato, a janela, a rua,
Há o horizonte como um cobertor
Que tapa e destapa uma estrada
Que nos leva e mais nada.
E quando passas perto de ti,
Ainda há quem te reconheça
E pelo nome de infância te chame outra vez,
Com aquele zelo apenas possível
Por quem nunca pensou o que impossível significa.
Perceberão eles que giras como uma carpa
Que lançaram num poço sem luz,
Onde a água desce, dia após dia,
Lentamente até esse lugar
Onde todos te esperam, finalmente.

6 comentários:
Meu amigo, esse poema é tão bonito e reflexivo. Além de ter muitas imagens poéticas que retratam a sensação de transitoriedade. O "pingo da chuva" é descrito como passando rapidamente, o que reflete a fugacidade dos pensamentos.
Elementos como o gato, a janela, a rua e o horizonte aparecem como símbolos da rotina e da familiaridade. O horizonte é comparado a um cobertor que cobre e descobre uma estrada, sugerindo a continuidade e a repetição da vida.
No terceiro verso, uma dimensão mais pessoal. O sujeito lírico é reconhecido por alguém próximo, que o chama pelo nome da infância. Isso evoca a ideia de conexões profundas e duradouras que resistem ao tempo e à distância. A pessoa que o reconhece demonstra um cuidado especial, como se nunca tivesse considerado algo impossível.
Finalmente introduz a imagem poderosa da carpa lançada num poço sem luz, simbolizando a trajetória do sujeito mergulhando nas profundezas da existência. A água desce lentamente, dia após dia, até chegar a um lugar onde todos o esperam, sugerindo uma reconciliação ou um encontro final.
Muito bom, um dos melhores que você escreveu.
Beijos
Muito obrigado, Solange, pela sua análise tão detalhada e clarividente.
Parecemos mesmo umas carpas rodando tantas vezes sem saber para onde, mas ai uma pequena luz nos abre o caminho, mas por medo do desconhecido, continuamos a dar voltas e mais voltas~.
Bom dia, Luís
Lindo poema, um forte abraço.
El poema se mueve entre lo existencial y una postura ideológica frente a la vida y el poder, que obran contra esa necesidad de ser único del poema de Brassens, reprimiéndolo, anegándolo en la mejor imagen del poema. Buenos versos. Un abrazo
Carlos
Que lindo! Prazer, passando para conhecer seu cantinho.
Abraços e ótimo final de semana.
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