O que posso eu conhecer? Como? E o quê?
Para além dos limites cognitivos impostos pelas dimensões do tempo e do espaço, as minhas emoções condicionam-me também o entendimento.
Se uma sinapse da rede neuronal é ativada quando uma determinada carga elétrica a estimula, poderá o mesmo acontecer com o nosso grau de entendimento das coisas: a paixão ilumina-nos os mais crípticos poemas da amor, a doença explica-nos a fragilidade humana e por esta via os caminhos da metafísica e do transcendente.
Conhecer não está assim ao arbítrio absoluto do sujeito, mas também das suas circunstâncias. O primeiro passo é de facto arbitrário e começa pelas perguntas : estou preparado para conhecer? encontro-me em condições para conhecer? Estas premissas são definidas por: primeiro, uma atitude interior que permita aceitar o conhecimento sem baias; segundo, ter a certeza que me é dado a conhecer a coisa na sua forma mais nítida, sendo esta claridade fruto da razão ou da experiência.
A tomada de consciência das circunstâncias mais imediatas ou próximas aumentará a possibilidade para conhecer. Este novo conhecimento permitirá dar resposta imediata sobre o que é a minha realidade, porque o "eu" apenas o é num determinado espaço e tempo. Assim — e partindo desta primeira camada de conhecimento — podemos progredir para perguntas mais universais e cujo a grandeza ultrapassa os limites possíveis da nossa intimidade com as mesmas.
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