29/03/2012
Primeiro é-se e depois demonstra-se porque se é
"Porque é que foste para jornalismo ? Uma vez contaste-me, achei tanta piada. Mas o que tem mais piada é tu acreditares na causa e efeito. Porque primeiro é-se e depois demonstra-se porque se é" - escreveu Vergílio Ferreira no seu romance "Até ao fim".
Esta pérola do existencialismo cristão de Vergílio Ferreira é afinal uma frase de um grande carácter pedagógico. Um conselho válido para qualquer jovem que acabou de apanhar "o comboio da vida".
27/03/2012
Bovary, um paradigma social
Um museu sincroniza os seus utentes com o passado. Fá-lo através de artefatos, documentos e experiências.
A Cinemateca Portuguesa concretiza a sua aspiração de museu do cinema da melhor forma, ou seja, através das emoções, através de histórias de celulóide que nos revelam as culturas humanas. Não só as culturas atuais, como aquelas que surgiram antes do cinema. E esta é a "deixa" para falar-vos de "Madame Bovary" de Vicent Minnelli (1949) - filme a que assisti no passado Sábado nesta sala de espetáculos.
Este soberbo filme é um dos vetores de análise de um romance homónimo marcante da cultura ocidental. Ele demarca a transição do romantismo para o realismo, impondo-se assim como uma rutura epistomológica. A rutura coloca dois espaços em contato. E quando os espaços se encontram, nascem novas perguntas. E assim avançam as mentalidades de rutura em rutura, de pergunta em pergunta.
Uma obra de arte que nos questiona, cumpre sempre bem a sua função. E a história de Emma Bovary mostra-nos o quão ténue é a linha que divide a culpado da vítima, e isso inquieta o espetador porque tem dificuldade em situar-se. Emma Bovary é uma mulher deslumbrada por um mundo de romances e revistas cor-de-rosa. Consequentemente esta mulher não consegue realizar-se no mundo real, sendo por isso vitima de um conjunto de personagens que gravitam em seu redor, e que se aproveitam da sua ingenuidade social. A conclusão realista de Gustave Flaubert, autor do romance, é simples: A impossibilidade de viver o espaço dos sonhos na vida real, porque eles são uma representação onírica e subjetiva que não encaixa com a forte coação social que nos contextualiza.
Emma Bovary é felizmente uma mulher que viveu num mundo (Séc.XIX) onde a condição feminina estava ainda por se antecipar. Mas se que a figura "Bovary" é de facto História apenas, o paradigma "Bovary" está sempre latente na existência humana. E, por isso, nos fragiliza e, por isso, nos humaniza.
25/03/2012
O amigo italiano
"A vida não está por ordem alfabética como há quem julgue. Surge ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são migalhas, o problema depois é juntá-las(...)"
24/03/2012
Os portugueses, um povo obstinado
Jogava-se o acesso aos quartos-finais da Liga Europa. Defrontavam-se em Manchester, o Sporting e o City. Os lisboetas arredados em todas as outras competições, jogavam agora a salvação do investimento efetuado no plantel na época de 2011/2012. Tinham ganho, em Lisboa, por 1-0.
Nesta segunda-mão, depois de terem estado a ganhar por 0-2, sofreram 3 golos. O resultado de 3-2 ainda servia os objetivos leoninos. O City milionário carregava agora entusiasmado pela reviravolta e pelo público. O Sporting sucumbia minuto após minuto. Contudo, resistia. Afligia os adeptos lusitanos o sofrimento de todo o plantel. O jogo estava ao rubro, mas com um sentido apenas. Havia que fazer qualquer coisa. Foi então que dois portugueses, se lembraram de perder tempo: Pereirinha e Rui Patrício simulavam lesões (a do Pereirinha foi "meia-lesão") com uma veracidade e teimosia incrível. Estavam 11 jogadores leoninos em campo, mas foram dois portugueses que se "lesionaram".
Somos um povo pequeno e temos uma economia frágil. Quando a luta aquece, sabemos sofrer como ninguém e jogamos com tudo. É o nosso plano de sobrevivência, logo um traço da nossa identidade. Gostaríamos todos que fosse ao contrário, que prevalecesse o espírito desportivo. A natureza porém obriga-nos à sobrevivência.
PS.Portugal não é o lugar de um só povo (como a França, Terra dos Francos e a Alemanha, Terra dos Alamanos) ou fruto de uma contingência geográfica, Portugal nasce da VONTADE DOS HOMENS. É sempre essa vontade indómita que faz a diferença a nosso favor.
21/03/2012
Poética segundo Lorca
" Pero, qué voy a decir yo de la Poesia ? Qué voy a decir de esas nubes, de ese cielo ? Mirar, mirarlas, mirarle, y nada más. Comprenderás que um poeta no puede decir nada de la Poesia"
20/03/2012
16/03/2012
Os filhos do punk
A vantagem de ter um filho com 19 anos é, para além de muitas outras, descobrirmos (com algum atraso, provavelmente!) que continuam a fazer musica que nos faz sentir vivos (The Subways). The Subways faz lembrar "The Clash", é mais pesado que os "Artic Monkeys" e homenageia, a meu ver, que não sou grande entendido musical, a mais influente banda de punk londrina, "Sex Pistols". Apesar dos meus 44 anos, apetece-me fazer um "moche".
Tem juízo, Luís Miguel!
10/03/2012
palavras são sintomas
Foto de Mariana Castro - "Pas du langage" - série de 10 fotos |
"Tudo está implicado, tudo é complicado, tudo é um signo, ou seja, essência. Tudo existe dentro das suas zonas obscuras, onde nós penetramos, como dentro das criptas, para decifrar os hieróglifos e as linguagens secretas.
Não existem coisas, nem espíritos, não há corpos: corpos astrais, corpos vegetarianos…A biologia teria razão, se ela soubesse que os corpos, eles mesmos, são já uma linguagem. Os linguistas teriam razão se eles soubessem que a linguagem é sempre dos corpos. Todo o sintoma é uma palavra. Mas antes de tudo, todas as palavras são sintomas."
Gilles Deleuze, 'Proust et les Signes' - tradução livre minha a partir do blog "nuit interier"
01/03/2012
O tempo dos filósofos
Há um tempo para agir e outro para refletir.
Conta-se que em outros tempos, numa margem de um rio, dois engenheiros romanos discutiam como construir uma ponte e, na outra margem dois filósofos discutiam se deviam ou não construí-la.
A meu ver, chegámos a um tempo propício aos filósofos.
Com todo aquilo que descobrimos e desenvolvemos nas ciências humanas e exatas, com a tecnologia que já possuímos, devemos essencialmente perguntar o que fazer com tudo isto, antes de criarmos mais artefactos.
Parar para pensar e depois agir com convicções fortes e definidas.
Conta-se que em outros tempos, numa margem de um rio, dois engenheiros romanos discutiam como construir uma ponte e, na outra margem dois filósofos discutiam se deviam ou não construí-la.
A meu ver, chegámos a um tempo propício aos filósofos.
Com todo aquilo que descobrimos e desenvolvemos nas ciências humanas e exatas, com a tecnologia que já possuímos, devemos essencialmente perguntar o que fazer com tudo isto, antes de criarmos mais artefactos.
Parar para pensar e depois agir com convicções fortes e definidas.
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