Encontramos a cidade ainda meio adormecida. Os estacionamentos parecem bocas desdentadas. Para reiniciar as máquinas, basta carregar no botão. As pessoas têm uma matriz natural: espreguiçam-se, lavam os olhos, bocejam e tomam depois o primeiro café devagar a olhar o infinito interior. A cidade também regressa assim, aos solavancos, como um corpo que deixou os seus órgãos a funcionar apenas para se manter viva enquanto dorme.
Passo em revista as tarefas, as rotinas e os compromissos profissionais. Sinto-me um toureiro que antes da corrida espreita um a um os touros que vai lidar, com um misto de temor e desejo.
A respiração acelera. Recordo ainda o silêncio e as águas de agosto; as caminhadas; os passeios; as praias e os museus; as pessoas que conheci e que não sei se voltarei a ver.
«Parar, começar, parar, começar”, lembra-me o som de uma máquina a vapor. Tem ritmo. Tem vida. Vamos a ela, companheiros.
Fotografia de Frame Harirak em Unsplash