27/10/2017

A folha da nespereira

E o gato sentado olhava a nespereira e esperava  como só os gatos sabem. No cimo da pequena nespereira, nasceu uma ponta felpuda, pueril. Todos os dias o gato cheirava insistentemente a exígua aparição. Coloquei eu também algum cuidado e atenção naquele subtil fenómeno. Regava com água mineral e coloquei um pequeno lápis velho a servir de estaca, não fosse a nespereirazinha partir-se. O que seria aquele pequeno novelo disforme que apareceu numa frágil árvore guardada num vaso plástico numa daquelas marquises suburbanas quentes e desarrumadas ?

Passados alguns dias, aquele rebento tornou-se uma folha a que chamei a grande esperança. Poderá haver esperança maior que ter fé, paciência e cuidado em algo tão pequeno e inútil?


20/10/2017

Inquérito

O que dizem uns aos outros os homem antes de torturarem ?

O que diz a si mesmo o homem antes de torturar alguém ?

O que diz o homem a si mesmo antes de se torturar ?


Responda a este inquérito de três perguntas apenas em: https://goo.gl/forms/P2N8bkXzCQ8J3l952

16/10/2017

Em silêncio

Encontro, no meu dia-a-dia, muitas pessoas apaixonadas por Jesus Cristo, bem como pela ética e mística cristãs, mas que continuam teimosamente a afirmar-se ateus. 

Pergunto: Não terão eles a omitir a sua conversão, para manterem o seu status quo  na hierarquia política ou social que os colocou no lugar que  ocupam ? Da mesma forma que faziam aqueles padres que - no final do livro e filme "Silêncio" de Shusaku Endo e Martin Scorsese, escritor e realizador, respetivamente -  sobreviviam como apóstatas, resguardando em silêncio a sua devoção por Cristo.  

05/10/2017

O que é silencio ?

Silêncio
é ver a  pequena nespereira crescer
num banquinho sentado 

Silêncio 
é dar um novo nome
às ruas por onde passámos 

Silêncio 
é  grito inesperado
do nada 

Silêncio 
é o bem-estar do poema
quando chega ao caderno cansado 

Silêncio 

Até quando ?


04/10/2017

A existência

Ao invés do que escreveu René Descartes, quando mais pensamos, menos existimos. Porque a razão é um elemento absorvente da diferença, da nossa individualidade. E como poderíamos existir se apenas nos deixássemos orientar pela razão ? E até onde é possível ser razoável sem amachucar de forma irreparável a nossa forma exclusiva de percepcionar a vida ?