Apesar de nunca ter te conhecido, João Ribas, ouvi falar muito de ti. Acho que fumaste e bebeste a tua parte e depois partiste. Obrigado por nos teres despenteado as cabeleiras que crescem no sentido inverso, ou seja, as que crescem desgrenhadas dentro do pensamento. Ficará sempre dentro do meu ouvido, uma guitarra a arranhar e uma voz genuína cantando:' Nós seremos censurados nesta vida até morrer'. Neste pais tão manso, a tua teimosia ainda que juvenil era uma referência. Até sempre, homem-punk.
23/03/2014
21/03/2014
Ao "Dia Mundial da Poesia"
naquele tempo
dizia-se poesia
ou ausência de paredes
|Luís Palma Gomes - 1994|
dizia-se poesia
ou ausência de paredes
|Luís Palma Gomes - 1994|
"Rituais da Terra" - Teatro inclusivo ou simplesmente bom teatro ?
Eu fiquei sem palavras e eles, os atores, encheram-se delas.
Depois deu-se uma comunhão de linguagens e acabei a aplaudir agitando as mãos
em linguagem gestual. Tudo isto aconteceu no "Ritual da Terra", o
espetáculo que estreou ontem. Este original evento cultural resultou da parceria entre o Associação Cultural de Surdos da
Amadora e o Teatro Passagem de Nível.
Atores surdos e não-surdos a partir de
vários textos e musicas, entre os criadores estão o poeta e dramaturgo Domingos Galamba e o músico João Garcia
Barreto, interpretam doze quadros onde são descritas as atividades agrícolas e
sagradas de uma sociedade rural - tão frequente há 40 ou 50 anos atrás. Se
estiver perto da Amadora não perca, dia 21, 22, 23 e 27 de março, pelas 21h30 no Auditório de Alfornelos. Encenação de Porfírio Lopes
Guarda-roupa: Matilde Matos | Apoio Musical: João Garcia Barreto |
Luminotécnica: Rui Ferreira e Luis Mendes | Sonoplastia: André Tenente | Fotografia: Carladeabreu Ferreira | Criação Gráfica: Jorge Couto | Facilitadora da comunicação e intérprete: Sofia Rocha | Dramaturgia:Domingos Galamba e Porfirio Lopes
19/03/2014
17/03/2014
Moira encantada
O ator e colega do Teatro Passagem de Nível, António Augusto Borges, brindou-nos hoje com um bonito poema sobre a nova produção de "A moura". Passo a transcrevê-lo:
"Moira Encantada
Tez morena
Gestos delicados
Quase bailados"
Vida atribulada
Em meio da intriga
Divida bondade
Foi superior,
A simplicidade
No comportamento
Com a empatia
P'ra ricos e pobres,
criava paixão
despertava amor.
Tornaram-na Santa
Quanto partiu
Deixou a saudade
No povo e nobres.
As noites de lua
Em quarto crescente
Trazem à lembrança
A princesa Santa
"Moira Encantada
Tez morena
Gestos delicados
Quase bailados"
Tez morena
Gestos delicados
Quase bailados"
14/03/2014
O passarinho (III)
Hoje, talvez por ser sexta-feira, o passarinho apenas piou e disse: "O medo há-de levar-nos à condição de ratos.".
Veio-me à imaginação um rato roendo, numa cave insalubre, um restinho de fast-food. E quando olhei de novo para o passarinho, já ele tinha alevantado voo. Tomara eu.
Veio-me à imaginação um rato roendo, numa cave insalubre, um restinho de fast-food. E quando olhei de novo para o passarinho, já ele tinha alevantado voo. Tomara eu.
13/03/2014
O passarinho (II)
Hoje voltei a ouvir o passarinho amarelo. Está mesmo desesperado. Imaginem o que chilreava do cimo de uma árvore sobre a Praça do Marquês Pombal: "Que cidade admite ser dominada por uma estátua de um marquês com um leão à ilharga ? Precisamos sempre de um capataz para dar ordens ao som do chicote, não é? Cambada de cobardes! Não há um homem com tomates que rebente à bomba a merda desta estátua ? E no seu lugar plantar um sobreiro, onde eu e os outros pássaros possamos lá fazer os nossos ninhos."
Pobre pássaro. Quem o ouve, senão eu ?
Pobre pássaro. Quem o ouve, senão eu ?
12/03/2014
O passarinho
Hoje, quando me deslocava para o trabalho, um passarinho amarelado, gritava em cima do tronco mais alto de uma oliveira, "Recuso-me a morrer antes da morte! Filhos da puta de esclavagistas do caralho!"
Achei o episódio tão pitoresco que decidi partilhá-lo convosco.
Achei o episódio tão pitoresco que decidi partilhá-lo convosco.
Torso arcaico de Apollo
Torso arcaico de Apollo
Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não transporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.
Poema de de Rainer Maria Rilke
Tradução de Manuel Bandeira
Extraído do post do blogue(recomendo a leitura): https://gavetadoivo.wordpress.com/tag/torso-arcaico-de-apolo/
11/03/2014
Educação
Não considero a frase abaixo replicada uma verdade absoluta, mas um vetor, uma força, um trilho que não pode ser esquecido quando falamos de educação:
"Para aprender, precisamos de nos concentrar em algo real e verdadeiro. Não precisamos de tarefas atribuídas por outras pessoas, mas de algo que queremos criar, algo que queremos entender. Não precisamos de exercícios vazios, mas de projetos significativos e escolhidos por nós mesmos."
Lori McWilliam Pickert
"Para aprender, precisamos de nos concentrar em algo real e verdadeiro. Não precisamos de tarefas atribuídas por outras pessoas, mas de algo que queremos criar, algo que queremos entender. Não precisamos de exercícios vazios, mas de projetos significativos e escolhidos por nós mesmos."
Lori McWilliam Pickert
Contradição
“Não é poeta quem quer(…)” começa assim um poema de que gosto
muito, do meu amigo Júlio Mendes.
E quem
não quer ou não pode ser, o que faz ? Acho que faz poemas. É isso. Um poeta é
alguém que não quer ou que não pode ser poeta. Que triste definição.
08/03/2014
"À Beleza" de Fernando Olim
Fernando Olim é um escritor, professor e, diria eu, filósofo que descobri há pouco tempo, mas que se tornou já uma voz que teimo em seguir. Gosto de o ler e ainda de acompanhar o seu percurso ético, o seu pensamento refrescante.
Deixo-vos aqui um poema emblemático da sua vivência. Fernando vive primeiro e escreve depois - o que lhe dá uma sinceridade muito grande.
Tenho a sensação que ainda irão ouvir falar dele com mais regularidade.
À Beleza
Ó Beleza! Para onde o olhar se espraia aí te encontras!
Acima de mim aí estás!
Sob os pés, humildemente aí estás!
Ao meu lado aí estás!
Para onde quer que me volte aí te achas.
Como posso fugir, como posso escapar à tua presença?
Mesmo na fealdade te insinuas sub-reptícia e veladamente.
Querem-te destruir, querem-te desfigurar, querem-te comprar e vender, Mas aí estás gratuita e livre para os que verdadeiramente escutam, olham e sentem.
de Fernando Olim
Deixo-vos aqui um poema emblemático da sua vivência. Fernando vive primeiro e escreve depois - o que lhe dá uma sinceridade muito grande.
Tenho a sensação que ainda irão ouvir falar dele com mais regularidade.
À Beleza
Ó Beleza! Para onde o olhar se espraia aí te encontras!
Acima de mim aí estás!
Sob os pés, humildemente aí estás!
Ao meu lado aí estás!
Para onde quer que me volte aí te achas.
Como posso fugir, como posso escapar à tua presença?
Mesmo na fealdade te insinuas sub-reptícia e veladamente.
Querem-te destruir, querem-te desfigurar, querem-te comprar e vender, Mas aí estás gratuita e livre para os que verdadeiramente escutam, olham e sentem.
de Fernando Olim
07/03/2014
Simplicidade
Nada mais simples.
Nada mais.
Nada.
...
Fui almoçar. Volto já.
...
Nada....
Nada de novo.
Nada de novo outra vez.
...
E fui-me embora de vez.
06/03/2014
Luna e o cavaleiro
O cavaleiro leva escondido no peito
uma mulher e um desafio.
uma mulher e um desafio.
Chama-se Luna. É a cigana
mais bela que a aldeia já viu.
mais bela que a aldeia já viu.
Por amar o cavaleiro
as lágrimas de Luna sangram o rio.
as lágrimas de Luna sangram o rio.
Pouco importa ao cavaleiro
que tristezas de amor nunca sentiu.
que tristezas de amor nunca sentiu.
Sua lança espeta um toiro quente
que cai entre as ervas morto de frio.
que cai entre as ervas morto de frio.
Às cinco da tarde foge com Luna
e a desflora sem força nem cio.
e a desflora sem força nem cio.
Debaixo de um sobreiro
que o vento penteia com o seu assobio.
que o vento penteia com o seu assobio.
O chefe cigano e o seu bando
procuram os dois de fio a pavio.
procuram os dois de fio a pavio.
Chamam, imploram, ameaçam
mas Luna, a cigana, ninguém mais a viu.
mas Luna, a cigana, ninguém mais a viu.
Dizem que moram serenos
na outra margem, na casa de um tio.
na outra margem, na casa de um tio.
E ninguém mais os alcança
porque os junquilhos de Luna encheram o rio.
porque os junquilhos de Luna encheram o rio.
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