defronte do qual um novo druida reza.
E quanta inquietação encerras em teu hirto saber ?
E quanta dignidade e solidão em ti perscruto,
ó filha bastarda de um continente dissoluto ?
Procuro-te desde sempre
- ainda que apenas o entenda agora -
e só encontro mais perguntas, diante do teu ignoto vulto.
Há em ti algo que começa e algo que acaba.
Há um moribundo que, por fim, estremece
e um nado novo que, em segredo, berra.
Será aqui que começa ou termina a Terra ?
Olhando o céu, interrogo-o mais:
A quem realmente pertence este altar
onde o mar desposa a serra ?
Será paraíso ou inferno
ou apenas punhado de pó esquecido
na hora sempre repetida da incrível Criação ?
Quem mo dirá ?
Quem sabe não responde.
Apenas um silêncio se traduz
no marulhar surdo das ondas.
Sobre a pedra,
o corvo marinho ensaia um voo
como quem tenta, inábil,
abraçar o horizonte entre as suas asas.
Parece que leva, quieto e alçado,
sob as patas
um continente cansado
ao encontro de um mundo novo.
Praia da Ursa - Azóia - Sintra |
Praia da Ursa - Azóia - Sintra |
2 comentários:
Considero a praia da Ursa um dos mais belos e misteriosos lugares de todo o litoral português, mesmo, talvez, de todo o território de Portugal. Este "Salmo a uma rocha atlântica" coloca-nos perante interrogações que parecem atravessar, sem resposta, sucessivas gerações de seres humanos, eventualmente desde o período em que um primeiro olhar consciente terá repousado o seu caminhar sobre esta finisterra. A nossa perplexidade sobre o planeta que habitamos vai, seguramente, continuar por intermináveis gerações. Na praia da Ursa encontramos um não menos enigmático desejo de expressar o pensamento, pela palavra, pela fotografia, por todas as ferramentas de que hoje dispomos.
Belo poema....
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