20/03/2013

Carta Aberta ao cronista do Expresso, Henrique Raposo, a propósito da sua crónica "Quinto Império entre maquises"

Caro Henrique,

Li a sua crónica do Expresso e gostei. Declaro de antemão que vivo numa casa com marquise defronte do Quinto Império da Reboleira. Por esta razão, sou testemunha que a existir Quinto Império , e eu acho que ele existe, ele vive por estes meandros de subúrbio, onde Portugal se mistura com as pessoas de um mundo cujas origens remontam às paragens que outrora ligámos nesse processo conhecido como "Os Descobrimentos". 

Acredito numa tese lusitana para juntar as pessoas através da fraternidade e construir um imenso império da humanidade. Creio mesmo que o catolicismo, atacado por dentro e por fora, será uma via favorável para esse efeito. Não percebo porquê o medo de palavras como "velho" ou "pobre" ou "caridade". Não temos afinal de nos aceitar para aceitarmos o Outro ? Quando eu for velho quero que me chamem velho, quando eu for pobre quero que me chamem pobre e quero dar e receber, apenas porque gosto de mim assim.

O Quinto Império é o império do outro, do diferente. Não tenho a utopia do multicultarismo urbano, porque isso não seria honesto. Quero apenas dizer que, na medida do possível  as pessoas devem poder viver na Amadora como vivem numa África Europeia. Sou favorável ao gueto cultural (possível), não ao gueto marginal. Não devemos impor, mas sim convencer, dar espaço, respeitar e provavelmente chegaremos a um consenso. Essa será a nossa força: A diplomacia do amor - esses coloridos afluentes que tantas vezes desaguam no grande rio da miscigenação.


Se quer apreciar, como eu aprecio, até chegar quase a uma ligeira comoção, desloque-se domingo ou sábado à noite ao Dolce Vita Tejo. A paisagem urbana daquele espaço é um salmo ao " Quinto Império das marquises". Ainda que aquele templo seja dedicado ao deus menor do consumo, prova-nos que havendo um deus e gente comungando uma crença fundamental, o quinto império pode ser mais do que uma utopia quinhentista.


Cumprimentos deste seu leitor. Leio-o sempre. Nem sempre concordo. Julgo que estas diferenças, devem-se a sermos de famílas políticas diferentes - com todas as diferenças que habitualmente as nossas opções políticas acarretam se forem tomadas em consciência com o nosso passado e com as nossas expetativas para o futuro. Mas esta crónica do "Quinto Império entre marquizes" foi na moche, caro Henrique, foi na moche.



Conhecer para quê ?


O exercício do estudo e o  desenvolvimento do conhecimento atual é vista de uma forma utilitarista  ou  mercantilista. 

Explico: Se alguém se propõe a estudar ou a desenvolver o conhecimento existente (investigação) de forma a garantir o bem estar coletivo num futuro próximo ou de prazos mais prolongados (visão utilitarista), parece-me razoável.

 Já não estou tão de acordo com a visão mercantilista do estudo, porque me parece esvaziada do seu vetor ético e social.

 A primeira intenção do  estudo deve ser o garante do repositório cultural herdado. Parece-me que é essa a primeira função dos estudos superiores: Garantir  a perpetuação do já existe e, caso possível, acrescentar-lhe algo. 

Se a prática desse estudo se enquadra, ou não, no espaço de mercado de emprego momentâneo, parece-me no mínimo discutível devido à superficialidade do atual sistema capitalista. 

14/03/2013

Quinto Império

Da minha marquise
contemplo o Quinto Império
ou apenas a Reboleira ?




Mas afinal o que é o "Quinto Império" ?

É o quinto porque é essa a sua ordem de existência relativamente aos que existiram até ao momento da sua evocação, no século, XVII, pelo Padre António Vieira. 

Este império, ao contrário dos anteriores, não baseava a sua hegemonia na força, nem pretendia uniformizar os diferentes povos como forma de controlo. Seria antes disperso e constituído por múltiplas culturas. Um imperador católico regeria um império universal cristão e aproveitaria a rede de missões católicas  portuguesas para se implantar do Japão ao Brasil, da costa africana aos países banhados pelo Índico. 


O projeto do "Quinto Império" nasce também para combater outras ideias e interesses de índole politica  como a supremacia marítima holandesa e inglesa que desde a perda de independência lusitana se emancipavam.  Por esta razão, o mito do quinto império  engrossa os argumentos dos conjurados que lutam pela Restauração que  acontece em 1640. Portugal pode assim acalentar o sonho  de Vieira  de retomar a liderança militar e politica entretanto perdida e, quiça, fazer nascer o Quinto Império - O reino das fraternidades.