Que calma superlativa tem esta horta! Que enlevo e expoente máximo da civilização!
As árvores certas, no lugar certo. Enquanto a luz amorna a terra fecunda, aguardando uma benfazeja semente.
Na linha do horizonte, algumas montanhas ensaiam vagas de mar nas suas próprias silhuetas. Como se uma calmaria se espraiasse em profundidade e até à eternidade.
De regresso ao microcosmos, uma formiga ensaia o seu lugar aqui. Da mesma forma, eu o faço com a minha literatura. Com as suas antenas, a formiga experimenta aqui, depois acolá. Sabe-se lá o que procura ? Também eu não sei o que procuro. Sempre me questionei sobre a função da literatura ? E para que serve um poeta ?
Talvez ser poeta sirva apenas para colocar esta pequena horta do fim-do-mundo, num lugar de deuses e deusas, num Olimpo outra vez pastoral, perfeito como uma cantata polifónica, onde os sobreiros são tenores e os chamarizes, mega-sopranos temíveis, temperando a dimensão do silêncio com o estrilho do seu canto.
O poeta deve ter a pretensão de pegar carinhosamente nesta horta e arrancá-la sem a arrancar. Levá-la daqui para onde a horta não exista, mas seja necessária. Para quem não tenha uma horta - ou apenas a tenha virtualmente - consiga sentir o cheiro, a placidez, o optimismo, a modéstia honrada que tem uma horta em Salvaterra do Extremo (Idanha Nova - Portugal).
1 comentário:
Conheço Idanha e é um lugar muito bonito. Simples, mas acolhedor.
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